domingo, 4 de julho de 2010

sobre o tempo


A menina passou o domingo na companhia de seu avô. Ela gosta do jeito que ele fala. Um senhor machista e independente que derrepente virou quase um bebê. A menina sente que precisa passar mais tempo com ele. E é bom. E foi bom. Ele está com a visão comprometida. Anda com dificuldade. Fala lentamente, baixinho, sem a energia que tinha antes. E a menina sente necessidade de conversar mais com ele. Ele segura a mão da menina, e ela conta do sonho que tem de ir pra Cuba. Sentados no sofá, enrolados no cobertor na tentativa de se proteger do frio dessa cidade cinza opaco, ela, a menina lê para o seu avô bebê sobre o governo de Cuba, sobre os metódos de ensino. Ele, mesmo variando um pouco das idéias, lhe aconselha. Depois a menina mostra para o avô musicas cubanas, e eles dançam juntos com as mãos, pois o senhor velhinho bebê já não tem forças. Ele tira o relógio do bolso. A menina adora esse relógio. Ele conta que tem o registro nacional do relógio, que o comprou á uns dois anos. A menina sabe que seu avô ganhou o relógio do seu filho mais velho. Não questionou o que ele estava falando. Ele deve saber o que diz. Esse relógio. Passaram horas observando o relógio nas mão trêmulas do senhor. Ele não parava de falar, sim lentamente, mas não parava. A menina o olha com aquele olhar de ternura. Com aquele olhar de quem se despede de toda a sabedoria do avô dia após dia. Ele sabe que falta pouco tempo. E espera pacientemente. As vezes tenta se levantar de supetão e diz que vai dar uma volta por aí. Ainda bem que a menina está por perto, assim evita que ele se estatele no chão. Parece tão frágil. Tanto quanto ela. Há de ter paciência. e respeitar os momentos de seu avô. Ele se esforça. Mas hoje não quis se quer comer. Não quis acordar... a menina sabe que só tem nesse momento a companhia singela de seu avô. É tão doce. As vezes parece que ele dorme sentado, segurando a mão da menina e ela apesar de saber que tem que cuidar dele, sente-se segura pelo simples fato de sentir que ele está ao lado dela. É o suficiente para o tempo passar suavemente, sem respiração ofegante, sem problemas maiores, sem que seja o fim do mundo. A contagem regressiva e lenta a cerca do tempo de vida de cada um deles começou. A menina espera que amanhã seu avô acorde pra dançar com ela de mãos dadas.

Nenhum comentário: