quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Potinho

O potinho que guardava cinzas foi limpo da mesma maneira como fazem os garçons do bar onde a menina fuma sentada na mesa redonda. O tampo é de vidro. Ela vê seus pés de cima para baixo, apoiados na madeira que lembra algo por demais antiquado. Um silêncio quase constrangedor para si mesma. Dois movimentos lhe chamam a atenção: Um deles é o fato da menina só olhar para cima pra ver a fumaça saindo pelas narinas. O outro é o movimento do peito quando incha tomado pela nicotina. Silêncio. Os movimentos da menina são sincronizados. Primeiro olha os pés, de cima para baixo. Depois traga o cigarro. os pulmões incham. Solta a fumaça olhando para cima melancólicamente. Silencio. Está só. Exeto quando aparece o garçon para trocar o cinzeiro. Está só.  Agora ela pensa que o potinho, aquele potinho, está vazio. Agora ela não para de pensar nela e no potinho. Nela dentro do potinho.Talvez caiba. Afinal, não quer conforto. Quer consolo. Quer abrir a tampinha e ver o sol brilhando. Sentir o cheiro de terra seca. Calor! A menina abre a tampinha do potinho, entra com um pé, depois com outro, se encolhe, e antes de fechar a tampinha joga um bilhetino pra fora que diz: A menina sumiu! Quem vai se dar conta? Sob todos os efeitos...A menina sumiu.

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