domingo, 10 de março de 2024

decidi ter um filho

 decidi ter um filho

um filhe

uma filha

uma cria

sim eu quero 

sim eu decidi 

sim eu vou ter

eu quero ter

quero eu deixar bem claro, registrado, catalogado 

que eu quero ter

um filho

uma filha

um filhe

uma cria

eu quero gestar

eu quero parir

eu quero maternar

eu quero viver isso

sentir isso

fazer parte disso

construir isso

não tenho mais tempo

tenho medo

o medo paralisa

estou paralisando faz tempo

e o tempo esta passando

sinto que preciso agora

confiante não estou 

preparada menos ainda

mas quero ir 

pq sinto que essa é a melhor condição que eu tenho para dar conta disso

e depois

dali pra frente

as deusas e meus orixás que vão me guiar

que seja leve e feliz <3

domingo, 24 de outubro de 2021

trans - borda

 eu sinto que eu me entreguei de mais nos últimos dias

e agora parece que não restou nada de mim para mim mesma

eu tô cansada, esgotada

cheia de anseios e desejos

eu estou transbordando

estou uma tsunami

que tá fazendo um arrastão bom e ruim ao mesmo tempo


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

como?

 como é que faz

para compartilhar

suas dores

com alguém?


terça-feira, 16 de março de 2021

RAINHA IRMÃ

quando ela ainda era uma criança me viu nascer

antes mesmo de saber ou se dar conta tinha uma imensa responsabilidade

foi a pessoa que me cuidou, me criou, mesmo sem saber ou querer

meio que não foi uma escolha

imagino hoje, como deve ter sido o peso dessa responsabilidade

entre caos e desavenças crescemos

sempre que vc ia embora eu chorava sem saber por que

e sentia medo

a primeira vez que vc foi embora eu fiquei uns dias andando pela casa usando óculos escuros

eu me sentia triste e desprotegida (mas não sabia disso na época. sei hoje)

não queria que as pessoas me vissem chorando

elas não iam entender, pq afinal, a gente brigava tanto 

tanto como as irmãs brigam

mais do que uma personagem de cinema você foi/era/é minha inspiração

alguém que sempre seguiu os primeiros passos antes que eu

e que de certa maneira me ensinou os caminhos

mesmo que eles fossem tão diferentes

não tem como eu não olhar pra vc e sentir que tudo é possível

ela pode ela vai

você vai, faz, cria, contagia, segue.. firme, forte, obstinada

eu sei que alguém veio antes de mim

eu sei que alguém conseguiu ser e estar

sei que alguém abriu os caminhos

alguém que veio antes de mim

e está tão perto

e me conhece tão bem

e sabe quem eu sou ou como eu sou

esse alguém é você 

que me inspira, que me dá força, que me faz repensar as infinitas possibilidades que são possíveis na vida

se vc tem e é

eu não preciso ter medo de ter ou ser


sábado, 29 de agosto de 2020

 MINHAS TIAS-AVÓ

Tia Lázara e Tia Maria. Irmãs da minha avó Benedita, mãe do meu pai Jair de Souza.


UM POUCO DO QUE EU SOU É POR CAUSA DELAS


Recebi essa foto hoje. Essa imagem, tão forte, tão linda, tão iluminada me pegou de sobressalto. Chorei de emoção.

Minha avó Benedita já nos deixou. Sinto falta dela. Sinto falta de tudo o que eu não vivi com ela.

Ver essa imagem das irmãs da minha avó (das minhas tias-avó) me enche de alegria. É como sentir que a nossa história nunca se acaba. Somos força, somos resistência! E o elo fundamental, para que eu tenha contato com um pouquinho da minha história, da história da minha família é por causa da minha tia Cassia Basso.

Estamos juntas ainda que distante. E quanto mais o tempo passa mais eu me conheço.

Obrigada por tudo <3

Foto em Cambé- PR | Agosto de 2020




segunda-feira, 9 de julho de 2018

homens

eu estou cansada de trabalhar para homem branco hétero cis!

eu não consigo me empoderar

eu não consigo me empoderar caralho!!!!

eu odei saber que eu sempre vou precisar de um homem pra chegar em algum lugar. pra pagar o aluguel. pra comer. pra pagar a cerveja. pra pagar o cigarro. pra gozar.

eu não quero ter que precisar de um homem. eu quero só ter que precisar de mim mesma.

mas eu nasci mulher né. que lástima. que destino cruel. que realidade machista que eu vivo. eu não aguento mais.

o mais foda é saber que ainda que eu tenha um convivio num meio descontruido, ainda sofro muito preconceito.

preconceito por ser mulher. preconceito por ser negra. preconceito por não ser rica.

eu sempre preciso de um homem pra pagar meu salário. o salario que paga o aluguel, a cerveja o cigarro o uber de volta pra casa, o remedio da cachorra, a geladeira nova, o concerto da máquina de lavar roupas.

eu nao to pedindo esmola. eu não to querendo emprestimo. eu não quero piedade.

eu trabalho. eu quero trabalhar. eu gosto de trabalhar.

eu só não aguento mais ter que depender de um homem.ter que depender de varios homens. homens brancos hetero cis. homem no alto escalão da política, da saúde, do juizado, da cultura. homens. homens, homens, homens, homens. sempre sobre homens. sempre homens. é sempre sobre homens. é sempre o hominho que define o destino de uma mulher. que define o destino das mulheres. que decide onde a mulher deve estar.  EU NÃO AGUENTO MAIS. EU NÃO QUERO MAIS!




sábado, 31 de março de 2018

Vô Pedro

"A menina passou o domingo na companhia de seu avô. Ela gosta do jeito que ele fala. Um senhor machista e independente que derrepente virou quase um bebê. A menina sente que precisa passar mais tempo com ele. E é bom. E foi bom. Ele está com a visão comprometida. Anda com dificuldade. Fala lentamente, baixinho, sem a energia que tinha antes. E a menina sente necessidade de conversar mais com ele. Ele segura a mão da menina, e ela conta do sonho que tem de ir pra Cuba. Sentados no sofá, enrolados no cobertor na tentativa de se proteger do frio dessa cidade cinza opaco, ela, a menina lê para o seu avô bebê sobre o governo de Cuba, sobre os metódos de ensino. Ele, mesmo variando um pouco das idéias, lhe aconselha. Depois a menina mostra para o avô musicas cubanas, e eles dançam juntos com as mãos, pois o senhor velhinho bebê já não tem forças. Ele tira o relógio do bolso. A menina adora esse relógio. Ele conta que tem o registro nacional do relógio, que o comprou á uns dois anos. A menina sabe que seu avô ganhou o relógio do seu filho mais velho. Não questionou o que ele estava falando. Ele deve saber o que diz. Esse relógio. Passaram horas observando o relógio nas mão trêmulas do senhor. Ele não parava de falar, sim lentamente, mas não parava. A menina o olha com aquele olhar de ternura. Com aquele olhar de quem se despede de toda a sabedoria do avô dia após dia. Ele sabe que falta pouco tempo. E espera pacientemente. As vezes tenta se levantar de supetão e diz que vai dar uma volta por aí. Ainda bem que a menina está por perto, assim evita que ele se estatele no chão. Parece tão frágil. Tanto quanto ela. Há de ter paciência. e respeitar os momentos de seu avô. Ele se esforça. Mas hoje não quis se quer comer. Não quis acordar... a menina sabe que só tem nesse momento a companhia singela de seu avô. É tão doce. As vezes parece que ele dorme sentado, segurando a mão da menina e ela apesar de saber que tem que cuidar dele, sente-se segura pelo simples fato de sentir que ele está ao lado dela. É o suficiente para o tempo passar suavemente, sem respiração ofegante, sem problemas maiores, sem que seja o fim do mundo. A contagem regressiva e lenta a cerca do tempo de vida de cada um deles começou. A menina espera que amanhã seu avô acorde pra dançar com ela de mãos dadas."

Texto que publiquei no meu blog secreto em 04 de julho de 2010. Inverno em Curitiba. Domingo cinza.

A última vez que dançamos de mãos dadas, foi em dezembro de 2016, durante a gravação de um dos episódios de Pássaros Ruins.

Finalizou-se, em 27 de março de 2018 a contagem regressiva a cerca do tempo de vida do meu avô. No alto de seus 98 anos.

Meu avô Pedro nos deixou. E que difícil é a dor da partida. Ainda que eminente desde de há muito tempo.


A vida é muito louca. e a morte também